Tosse: amiga ou inimiga?
- Assoc. Pediátrica Viana
- 9 de dez. de 2019
- 3 min de leitura

Nesta altura do ano, muitos são os pais que têm noites mal dormidas em consequência dos “festivais” noturnos de tosse dos seus filhotes.
Na verdade, a tosse é um sintoma extremamente frequente, sendo um dos principais motivos de consulta em idade pediátrica. Tem um pico de incidência nos meses de Inverno e nas crianças que frequentam infantários.
O que é a tosse?
A tosse é um mecanismo de defesa respiratório que aumenta a libertação de secreções e partículas do aparelho respiratório e protege da aspiração de materiais estranhos. Está associada a um reflexo, contudo, o seu início e supressão podem ser voluntários.
No entanto, é importante perceber porque surge e, acima de tudo, quais os sinais de alarme a que se deve estar atento.
O que causa a tosse?
A tosse não é uma doença em si mesma, mas é a manifestação principal de um vasto leque de situações. A maioria das crianças com tosse apresenta uma infeção respiratória alta, mas a tosse pode ser uma manifestação de todas estas situações:
Infeção respiratória alta (incluindo constipação, traqueíte, epiglotite e laringite)
Infeção respiratória baixa (incluindo bronquiolite, pneumonia e síndrome pertussis)
Aspiração de corpo estranho (objecto estranho no sistema respiratório)
Primeira apresentação de doença crónica (por exemplo, asma, rinite alérgica)
Aspiração de fumo ou vapores, entre outros.
Que sinais ou sintomas podem acompanhar a tosse?
A tosse é um sintoma, podendo ocorrer de forma isolada ou associada a outros sintomas, como: febre, falta de ar (dispneia), dor no peito (toracalgia), descarga nasal (rinorreia), obstrução nasal, comichão (prurido) nasal, dor de garganta (odinofagia), dor de ouvidos (otalgia), entre outros.
Como tratar a tosse?
Apesar da maioria das situações que condicionam tosse na criança serem benignas e autolimitadas, há alguns procedimentos que devem ser adoptados e que podem ajudar a aliviar o desconforto provocado pela tosse, tais como:
Medidas de desobstrução nasal (fazer uma boa higiene nasal, com ajuda de soro fisiológico ou um spray de água do mar e, eventualmente, utilizando também um aspirador nasal)
Fraccionar as refeições nos casos em que as crianças vomitam com a tosse, ou seja, dar mais vezes de comer, mas menos quantidade de leite/alimentos em cada refeição
Controlo da febre com antipiréticos (paracetamol e/ou ibuprofeno), se esta existir.
Xaropes para a tosse? Sim ou não?
Os medicamentos de venda livre para o tratamento da tosse (entre os quais os xaropes para a tosse – antitússicos ou mucolíticos) não apresentam qualquer benefício, havendo ainda o risco de causarem efeitos adversos importantes.
As pomadas/bálsamos para esfregar no peito, os vapores de eucalipto ou outras substâncias inalantes que contenham álcool, cânfora ou outros substratos de plantas também não são aconselhados, pois são extremamente irritantes, contribuindo para o agravamento e perpetuamento da tosse.
Assim, o melhor 'remédio' da tosse consiste na hidratação das secreções, que se consegue fundamentalmente pela ingestão abundante de água.
Pode estar indicado outro tipo de tratamento em situações como a pneumonia, laringite ou asma que deve ser sempre orientado pelo médico assistente.
Com o que é que tenho que me preocupar?
A tosse é muito frequente e todas as crianças têm vários episódios em que tossem durante o ano. A maior parte dessas situações são “comuns” e pouco graves, mas há alguns sinais de alarme que os pais devem conhecer, tais como:
Mau estado geral da criança
Febre alta, difícil de controlar
Falta de ar (dispneia)
Sinais de dificuldade respiratória: adejo nasal (o nariz a abrir e fechar), tiragem subcostal e intercostal (a pele entre as costelas a ir “para dentro e para fora” durante a respiração), cianose (lábios azulados)
Tosse com mais de 3 semanas de duração, sem noção de melhoria
Vómitos persistentes
Dificuldade na alimentação
Guincho inspiratório entre acessos de tosse, principalmente em crianças mais pequenas.
É muito importante estar atento a estes sinais, porque a sua presença implica sempre uma observação médica mais urgente.
E se a tosse não passar?
Na maioria das situações, a tosse decorre de uma infeção respiratória alta e resolve espontaneamente em 3 a 4 semanas. Se isso não acontecer, ou se tiver um impacto muito significativo no sono, na atividade diária ou na qualidade de vida das crianças e da família, deve consultar-se o médico.
Lembre-se que a tosse é um mecanismo de defesa e serve para limpar os pulmões!
Autoras: Ana de Carvalho Vaz, Emília Monteiro
Serviço de Pediatria da ULSAM
Comments